sábado, 16 de maio de 2009

Notícias 16/05/09

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Urna funerária indígena achada no Sítio Trindade
Publicado em 16.05.2009

É prova de que índios viveram no antigo Forte do Bom Jesus

Relatos históricos dão conta da presença de índios e negros no Forte Real do Bom Jesus, ponto de resistência luso-brasileira à ocupação holandesa no Nordeste do País, em 1630. A prova material de que indígenas viveram na fortificação de terra, que sucumbiu aos invasores em 1635, foi literalmente desenterrada pela equipe do Laboratório de Arqueologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Debaixo de camadas de aterro, os pesquisadores descobriram, esta semana, uma urna funerária, uma vasilha menor e um cachimbo tubular de origem tupi-guarani. Todos de cerâmica.

O Arraial Velho do Bom Jesus, erguido pelo governador da então capitania de Pernambuco, Matias de Albuquerque, ocupava a área hoje conhecida como Sítio Trindade, em Casa Amarela, Zona Norte do Recife. Desde março último, arqueólogos da UFPE trabalham no local, a pedido da Secretaria municipal de Cultura, que pretende implantar uma Refinaria Multicultural no sítio. “É a primeira urna tupi-guarani encontrada na área do antigo forte”, diz o coordenador do Laboratório de Arqueologia, Marcos Albuquerque, que faz a quarta pesquisa no terreno, em 41 anos.

Segundo ele, há mais de uma interpretação para o achado. Uma das conclusões é que os índios se aliaram aos luso-brasileiros, lutaram no forte e alguns morreram. Outra possibilidade é o morro do Sítio Trindade ter sido uma ocupação tupi-guarani no período anterior à construção do forte. “Vamos fazer um teste de termoluminescência para precisar a data do fabrico da cerâmica”, informa o arqueólogo. O método consiste na medição de pequenos defeitos que aparecem na cerâmica, decorrentes da radiação a que ela está submetida.

“No momento, temos apenas a constatação da urna funerária na área onde existiu o forte”, declara. De acordo com Marcos Albuquerque, o cachimbo é legítimo e está inteiro. Apareceu no interior da urna. A vasilha pequena estava ao lado do recipiente maior. “Não encontramos restos de ossos, mas considerando que o terreno é bastante ácido, a ossada poderia ter sido destruída.” Caso contrário, seria uma panela usada para cerimônia e não para sepultamentos.

Conforme o pesquisador, os tupi-guaranis eram horticultores pré-históricos que cultivavam mandioca para produção de farinha, mingau e beiju. Complementavam a dieta com fontes proteicas como pescado e caça. No contato com os europeus, parte ficou ao lado dos portugueses e outros aliaram-se aos holandeses. Viviam tanto em margem de rio quanto no semiárido.

A equipe da UFPE também encontrou mais fragmentos de faiança (louça), pregos e projéteis de mosquete, além da base do fosso que circundava o forte. “Temos pontos chaves para ampliar o fosso. Com as informações levantadas, poderemos triplicar com segurança o trecho localizado em 1968”, garante Marcos Albuquerque.

O resultado das escavações, diz ele, leva a uma certeza. “O Sítio Trindade, pela grandiosidade e densidade de ocupação nos cinco anos de resistência do forte, merece um estudo integral.” A pesquisa arqueológica pode ser acompanhada pelo site www.magmarqueologia.pro.br.

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